A despeito do predomínio de um padrão bem marcado de divisão
sexual do trabalho nas comunidades pesqueiras do litoral do Pará, segundo
o qual pesca é trabalho de homem, as mulheres desempenharam e ainda
desempenham papéis importantes, quer no próprio processo produtivo da
pesca, quer na manutenção doméstica das famílias de pescadores. Este artigo
analisa alguns desses papéis, considerando a influência de um conjunto de
transformações que têm marcado a pesca no estuário amazônico, notadamente
nos últimos trinta anos. Inovações nas técnicas de captura e de conservação
do pescado, facilidades de transportes, assim como a presença constante de
comerciantes nos portos pesqueiros, reduziram o leque de tarefas pré e pós
captura e, em consequência, alteraram o tipo de participação de homens e
mulheres na pesca. Em comunidades rurais, constata-se que a mulher se
afastou das tarefas diretamente ligadas à atividade pesqueira, sem que isso
implicasse em novas oportunidades de trabalho para elas. Levantamentos em
Belém (Pará), com famílias migrantes provenientes de zonas pesqueiras,
mostram que as necessidades de sobrevivência têm levado mulheres e filhas de
pescadores a procurar ingressar no mercado de trabalho. Quando o fazem,
trata-se em geral de ocupações sazonais e com baixa remuneração, dentro ou
fora do setor pesqueiro.
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