Os Hantavírus são alguns dos responsáveis por enfermidades emergentes potencialmente letais para os humanos. Esses agentes negligenciados constituem a família Bunyaviridae. A infecção por Hantavírus ocorre mediante contato direto ou inalação de aerossóis oriundos de secreções e excretas de roedores infectados. Nos humanos, essa enfermidade se apresenta principalmente de duas formas clínicas: febre hemorrágica com síndrome renal, prevalente na Europa e Ásia, ou síndrome cardiopulmonar por Hantavírus, prevalente nas Américas. A forma cardiopulmonar é responsável por alta taxa de mortalidade, variando entre 40 e 100%. Embora seja um vírus endêmico na região Amazônica, há poucos registros de casos e dados epidemiológicos. O intuito deste estudo foi descrever a epidemiologia do Hantavírus nas populações dos municípios de Manaus, Coari e Itacoatiara, do estado do Amazonas, indicando a natureza de fatores de risco associados. Para isso, amostras de sangue de indivíduos foram coletadas de outubro de 2014 a junho de 2016, e questionários epidemiológicos e sócio demográficos foram aplicados. Realizamos um alinhamento múltiplo de sequências da nucleoproteína de espécies de Hantavírus identificadas na Região Amazônica. A sequência construída foi otimizada para clonagem e expressão em sistema bacteriano. A proteína expressa e purificada por afinidade foi usada como antígeno recombinante na padronização de testes sorológicos para detecção de anticorpos IgG antiHantavírus, como ensaio imunoenzimático (ELISA) e confirmação por DotBlot. O segmento S produzido foi confirmado por sequenciamento e a análise filogenética indicou que a proteína tem maior proximidade a espécies de Hantavírus circulantes na Amazônia e na América do Sul. Testamos um total de 1.419 amostras, distribuídas por Manaus (n=713), Coari (n=642) e Itacoatiara (n=65). Encontramos uma prevalência global de 11,35% (161 soropositivos) e relativa de 6,6% (47), 16% (103) e 17% (11), em Manaus, Coari e Itacoatiara, respectivamente. Os achados epidemiológicos mais relevantes estão relacionados ao município, sexo feminino, classe etária mais velha, baixo nível socioeconômico, ocupação (agropecuários e florestais), histórico antigo ou recente de trabalho com agricultura, manutenção de alimentos da colheita, armazenamento de grãos, presença de roedores nos domicílios e/ou locais de trabalho e não possuir rede esgoto. Conclui-se que a prevalência encontrada foi maior em relação a estudos anteriores realizados no Amazonas e associações de risco encontradas foram pertinentes nas populações. Os dados apresentados nesse estudo foram relevantes e contribuirão para uma maior compreensão da distribuição do Hantavírus no bioma amazônico.
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