Mamíferos de grande porte são vulneráveis à extinção e respondem diretamente a gradientes ecológicos ao longo da floresta e à intensidade dos produtos florestais utilizados pelas populações humanas. Neste estudo, avaliamos os efeitos da estrutura da floresta e do histórico de ocupação humana na composição das assembleias de mamíferos de médio e grande porte na floresta de terra-firme do Parque Nacional de Anavilhanas, um dos mais oligotróficos ecossistemas amazônicos. Os censos dos mamíferos foram executados ao longo de 11 transectos lineares de 4 km, seis deles localizados em áreas com histórico passado de ocupação humana, cessado desde a criação da unidade de conservação (há 30 anos), e 4 deles localizados em áreas onde não há registro de histórico de ocupação humana. Detectamos 469 indivíduos de 26 espécies durante os censos diurnos e noturnos, e 11 espécies adicionais fora dos transectos. O histórico de ocupação humana esteve consideravelmente relacionado aos componentes da estrutura da floresta. A biomassa de frutos, a cobertura do dossel e o tamanho das árvores apresentaram forte associação com áreas não habitadas, e influenciaram a estrutura das assembleias de mamíferos. Uma relação direta entre a categoria de dieta e o tamanho das espécies foi observada. Grandes frugívoros-herbívoros e carnívoros estiveram mais associados com áreas com maior biomassa de frutos, árvores de maior porte e maior cobertura do dossel. Por sua vez, pequenos frugívoros-onívoros arborícolas estiveram mais associados com áreas de dossel mais aberto e árvores de menor porte. Este estudo indicou que os efeitos do histórico de ocupação humana na estrutura da floresta ainda são evidentes três décadas após a desocupação dos moradores locais do Parque Nacional de Anavilhanas. Este efeito de longo prazo pode ser explicado pela baixa resiliência dos ambientes de Anavilhanas, demonstrando a fragilidade das assembleias de mamíferos frente às alterações antropogênicas nos ecossistemas oligotróficos da bacia do Rio Negro.
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