Tese

Impactos da urbanização sobre as assembleias de peixes de igarapés de Manaus, Amazonas, Brasil: processos ecológicos e perspectivas de conservação

A cidade de Manaus vem crescendo de forma acelerada e desordenada, o que provoca a fragmentação da floresta e condena os igarapés urbanos ao desaparecimento. Junto com esses igarapés, perde-se uma parcela importante da biodiversidade aquática local, antes mesmo de ser adequadamente conhecida. Neste...

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Autor principal: Anjos, Hélio Daniel Beltrão dos
Outros Autores: http://lattes.cnpq.br/3265195020542244
Grau: Tese
Idioma: por
Publicado em: Universidade Federal do Amazonas 2022
Assuntos:
Acesso em linha: https://tede.ufam.edu.br/handle/tede/8993
Resumo:
A cidade de Manaus vem crescendo de forma acelerada e desordenada, o que provoca a fragmentação da floresta e condena os igarapés urbanos ao desaparecimento. Junto com esses igarapés, perde-se uma parcela importante da biodiversidade aquática local, antes mesmo de ser adequadamente conhecida. Neste contexto, foram estudadas as assembléias de peixes de 52 igarapés dentro e fora de fragmentos florestais urbanos além de experimentos em laboratório, visando avaliar os efeitos da fragmentação florestal e de alterações nas características estruturais e limnológicas dos igarapés (poluição) sobre a composição e diversidade da ictiofauna. Foram coletadas 68 espécies de peixes, de sete ordens e 14 famílias. A riqueza variou de uma a 14 espécies por trecho de 50m de igarapé. Igarapés sujeitos a impactos antrópicos apresentaram mudanças tanto nos parâmetros estruturais e limnológicos, como na composição e estrutura das assembléias de peixes. Igarapés em bom estado de conservação apresentaram riqueza de espécies mais alta, associada a altos valores de oxigênio dissolvido e baixos valores de condutividade e pH, e a situação inversa foi registrada nos igarapés poluídos. A riqueza de espécies por igarapé (1-14 espécies) foi pequena em relação à riqueza total encontrada (68 espécies), indicando uma alta diversidade regional. A similaridade na composição de espécies de peixes variou com o grau de integridade ambiental dos igarapés. Igarapés íntegros apresentaram assembleias mais ricas e diversas, enquanto que igarapés fortemente degradados apresentaram assembleias com poucas espécies e mais similares entre si. Diferenças nas características ambientais originais dos igarapés, bem como o subsequente isolamento de populações de peixes por barreiras químicas (igarapés altamente poluídos entre os fragmentos) podem ser responsáveis pelas diferenças atualmente observadas na composição de espécies em igarapés próximos. Experimentos em laboratório evidenciaram que a qualidade da água afeta as interações agonísticas entre três espécies de ciclídeos (Aequidens pallidus; nativa; Cichlasoma amazonarum, não nativa/alóctone; e Oreochromis niloticus, não nativa/exótica). De forma geral, as interações agonísticas diminuíram entre as espécies em água poluída quando comparado com as interações em água limpa, e essa redução foi especialmente intensa na espécie nativa A. pallidus. Em água poluída houve fraca interação interespecífica entre as espécies quando analizadas em grupos mistos com duas espécies, mas houve forte interação intraespecífica em todas as espécies, tanto em grupo monoespecificos como mistos. Tais resultados indicam que a qualidade da água pode influenciar significativamente as interações agonísticas das espécies de ciclídeos estudadas e, com isso, interferir no processo de substituição de espécies nativas por não nativas nos igarapés urbanos de Manaus. O conjunto de resultados obtidos na presente Tese indica que a conservação das áreas verdes (remanescentes florestais) da zona urbana de Manaus é imprescindível para a manutenção da diversidade local de peixes de igarapés, e que a destruição de qualquer fragmento pode resultar na extirpação local de várias espécies de peixes, com perda de diversidade de peixes regional. O contínuo crescimento populacional traz consigo degradação ambiental, além de transtornos sociais e econômicos para a cidade de Manaus. Nesse sentido, é necessária a implantação de projetos de recuperação dos igarapés urbanos, assim como a instalação e manutenção de um sistema eficiente de coleta e tratamento de esgotos domésticos, de forma a evitar que sejam despejados diretamente nos igarapés. Projetos de recomposição da vegetação ripária nativa teriam efeitos altamente benéficos na recuperação ambiental dos igarapés urbanos, na conservação da biodiversidade aquática local e regional, e na formação de corredores ecológicos para a fauna e flora, o que poderia retroalimentar os processos ecológicos de recuperação ambiental em uma escala espacial mais ampla.