Dissertação

Poder, resistência e subjetividade: uma análise discursiva da obra “Não há silêncio que não termine”, de Ingrid Betancourt, e “É isto um homem?” de Primo Levi

A elaboração discursiva em forma de literatura sobre guerra política pode espelhar a maneira como o sujeito se constitui no meio de um enredo histórico. Existem duas obras autobiográficas que retratam vivências de conflitos políticos e sociais pelas quais é possível perceber sujeição diante do exerc...

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Autor principal: Montoya, Claudia Patricia Cadena
Outros Autores: http://lattes.cnpq.br/6924773044648257
Grau: Dissertação
Idioma: por
Publicado em: Universidade Federal do Amazonas 2023
Assuntos:
Acesso em linha: https://tede.ufam.edu.br/handle/tede/9392
Resumo:
A elaboração discursiva em forma de literatura sobre guerra política pode espelhar a maneira como o sujeito se constitui no meio de um enredo histórico. Existem duas obras autobiográficas que retratam vivências de conflitos políticos e sociais pelas quais é possível perceber sujeição diante do exercício de um poder com consequências na subjetividade: por um lado, Ingrid Betancourt, ex-candidata presidencial da Colômbia no ano de 2002, retrata sua experiência de guerra e conflito armado entre guerrilhas, paramilitares e forças militares, ao ser sequestrada por um grupo chamado FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia). No seu livro Não há silêncio que não termine: meus anos de cativeiro na selva colombiana, a autora expõe uma riqueza de possíveis modos de subjetivação, em particular os gerados a partir da sujeição ao poder em condições de sequestro. Por outro lado, o autor Primo Levi, cidadão judeu-italiano, conta sua experiência nos campos de concentração ao ser levado a Auschwitz, expondo as consequências da tortura e a degradação da humanidade. O presente trabalho visou, então, apresentar uma reflexão, na linha da Análise de Discurso, sobre a posição sujeito-autor de Betancourt e de Levi, como sujeitos submetidos ao exercício de poder soberano e disciplinar, que, para o filósofo Michel Foucault, representam algumas das formas de poder. Logo, esta pesquisa tem natureza qualitativa e tipo exploratório, com relação aos objetivos propostos. A perspectiva a partir da qual deve ser observada este trabalho é sócio-histórica. As duas perguntas de pesquisa que pretenderam ser alcançadas foram: Como era o funcionamento e como se constituía o discurso de poder exercido pelas FARC na época do sequestro de Ingrid Betancourt, e pelos nazistas durante a prisão de Levi nos campos de concentração? Quais foram as significações e efeitos de sentido produzidos em volta do discurso de resistência de Betancourt e de Levi? Com relação à escolha do corpus, foram selecionados enunciados a partir das duas obras que continham marcas textuais de poder, resistência e mudanças na subjetividade, as quais, de uma forma ou outra, forjam o modo de constituição do sujeito em condições de privação da liberdade e tortura. Os procedimentos metodológicos, de acordo com a natureza da AD, foram norteados a evidenciar os processos de significação desses enunciados, na tentativa de compreender os efeitos de sentido produzidos. Para atingir os objetivos da reflexão proposta, foi feita uma contextualização histórica das FARC, na Colômbia, e do Nazismo, na Europa, seguido de uma revisão dos conceitos foucaultianos que se centram no eixo do poder, da resistência e da subjetividade. A articulação desses três conceitos desenvolvidos por Foucault foram o alicerce da análise.