Introdução: Desde que a doença do coronavírus 2019 (COVID-19) foi declarada pandemia em 11 de março de 2020, pesquisas buscam entender os impactos da infecção no cotidiano das pessoas acometidas. Considerando a atividade laboral como realidade de grande parte da população atingida pela doença, entende-se a relevância de pesquisar as consequências da COVID-19 sobre a capacidade para o trabalho. Uma atuação satisfatória nas atividades laborais envolve aspectos como a saúde física e mental. A atividade física pode contribuir para a manutenção desses fatores através da melhoria da capacidade funcional e qualidade de vida. Objetivos: Identificar e comparar a capacidade para o trabalho e o nível de atividade física de indivíduos acometidos e não acometidos pela COVID-19 leve na cidade de Manaus; verificar se o nível de atividade física na vida diária (AFVD) apresenta relação com a capacidade para o trabalho; investigar se a infecção pelo SARS-CoV-2 é fator determinante para déficits na capacidade para o trabalho. Métodos: Trata-se de um estudo transversal, descritivo exploratório, com amostra de conveniência. Todos os participantes realizaram sorologia para SARS-CoV-2 e foram divididos, conforme o resultado, em soropositivos e soronegativos. A avaliação da capacidade para o trabalho foi realizada através do questionário Índice de Capacidade para o Trabalho (ICT), e da AFVD por meio de pedômetro para a quantificação de passos diários. Foram utilizados os testes de Shapiro-Wilk para análise da distribuição dos dados, Qui-Quadrado e Mann-Whitney para as comparações e coeficiente de Spearman para as correlações. Regressão de Poisson com variância robusta foi realizada para identificar variáveis que influenciaram a capacidade para o trabalho. A significância estatística foi estabelecida em 5%. Resultados: Trezentos e onze indivíduos responderam ao questionário ICT. Cento e cinquenta e cinco aceitaram utilizar o pedômetro na vida diária. O resultado da sorologia para SARS-CoV-2 foi negativo em 103 (33,1%) indivíduos e positivo em 208 (66,9%). Não houve diferença entre os grupos quanto ao nível de AFVD (p=0,888). Por outro lado, o grupo soropositivo apresentou o menor escore final do ICT (40 [36-44] vs 43 [38-45]; p=0,008). Foi observada uma fraca correlação entre a capacidade para o trabalho e o nível de AFVD na amostra geral (r=0,19; p=0,017). Porém nenhuma correlação entre essas variáveis foi observada ao analisar somente o grupo soropositivo (r=0,16; p=0,09). Os fatores determinantes da capacidade para o trabalho inadequada no grupo soropositivo para SARS-CoV-2 foram a presença de três ou mais doenças atuais (RP=3,23;IC95%:1,59-6,54;p<0,0001) e ser do sexo feminino (RP=3,28;IC95%:1,27-8,46;p=0,014). Conclusões: Indivíduos com histórico de COVID-19 leve apresentaram o mesmo nível de atividade física, porém menor capacidade para o trabalho do que aqueles que nunca tiveram a doença. A COVID-19 não foi fator determinante para a capacidade de trabalho inadequada. A presença de três ou mais doenças concomitantes e ser do sexo feminino foram fatores que influenciaram na redução da capacidade para o trabalho em indivíduos acometidos pela COVID-19 leve. Não houve correlação entre a capacidade para o trabalho e o nível de atividade física na vida diária nos indivíduos com a sorologia positiva para SARS-CoV-2.
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