Nos últimos anos temos observado o rompimento de estruturas rígidas das identidades de gênero e sexualidade. Dentro desta nova construção, as identidades transmasculinas desafiam a norma binária, e para além disso apresentam novas possibilidades de expressar e viver tais masculinidades. Associada a questões identitárias, a parentalidade de pessoas trans representa um arena de constantes rupturas e negociações, mobilizadas pelas estruturas de poder dominantes que dificultam e invisibilizam tais vivências, mostrando uma dinâmica cultural que ora se utiliza do aspecto predominantemente do gênero designado pelo sexo, ora da identidade de gênero como critério para definir as práticas parentais, afetando questões complexas como a constituição de família, conjugalidade e a própria experiência parental. O objetivo deste estudo foi compreender a construção identitária e o exercício parental nos diversos cenários sociais dos homens trans que engravidaram antes da transição de gênero, por meio do método de pesquisa de campo qualitativa exploratória. A pesquisa foi realizada com cinco homens trans que engravidaram antes de iniciar o processo de transição de gênero e são acompanhados pelo ambulatório de Diversidade Sexual e Gêneros em Manaus-AM. Os relatos coletados através de entrevistas foram analisados por meio da análise temática e discutidos, à luz das teorias sociais de gênero. Os resultados demonstraram que homens trans vivendo sua parentalidade são submetidos a constantes questionamentos e tensionamentos sobre seus corpos e identidades, significados como um mecanismo sexista para legitimar a relação paterna reivindicada pelos interlocutores. A produção de sentido dos participantes acerca da parentalidade oscila entre a transgressão e acomodação da perspectiva cultural, numa vivência permeada de violências que reiteraram as vulnerabilidades sociais, e deflagraram a parentalidade como um dispositivo para gerir populações, e com efeitos produzem impactos deletérios à subjetividade, ao não contemplar a singularidade da experiência nas esferas familiares, educacionais, de direito e saúde.
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