A valorização crescente nos sistemas de saúde pública do conhecimento ancestral das populações da
Amazônia sobre as propriedades das plantas medicinais reflete a relevância cultural desse saber. Além
disso, esse conhecimento tem despertado o interesse da indústria farmacêutica em explorar estudos
farmacológicos, fitoquímicos e agronômicos para o desenvolvimento de novos medicamentos. A
utilização de ervas medicinais representa uma tradição ancestral que atravessa incontáveis milênios, está
profundamente integrada à sabedoria dessas populações e estabelece uma ligação entre cultura e bem
estar. Esses elementos não se manifestam de maneira independente, mas sim estão entrelaçados dentro
de um contexto histórico particular. Nesse sentido, o objetivo deste trabalho é identificar o uso local de
algumas espécies manejadas e descrever as suas indicações, buscando resgatar e valorizar os
conhecimentos locais relacionados às plantas medicinais. Os participantes deste estudo foram os
residentes das Comunidades São Francisco e São José, na Costa da Terra Nova, em Careiro da Várzea,
no Estado do Amazonas, os quais foram convidados a participar voluntariamente da pesquisa, tendo
lhes sido fornecido um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Por meio desse
documento, os participantes receberam informações detalhadas e formais e ficaram cientes de que
seriam o foco da pesquisa. A investigação foi realizada por meio de dois procedimentos técnicos
distintos: 1) revisão bibliográfica e 2) estudo de caso. Embora os medicamentos alopáticos sejam
amplamente utilizados no tratamento de diversas doenças na população urbana, ainda existe um grupo
que mantém o conhecimento tradicional sobre plantas medicinais. Esse segmento continua a empregar
essas plantas como fonte de bem-estar, reconhecendo suas propriedades terapêuticas. Assim, como parte
deste trabalho, foi relatado o uso pelos participantes da pesquisa de 21 espécies vegetais com
propriedades medicinais, que abrangem 20 gêneros e famílias distintas. Os resultados indicam que essas
plantas foram utilizadas para combater gripe (30%), seguida de febre (20%), gastrite (25%), câncer
(10%), inflamações (10%) e diabetes (5%). As folhas foram a parte da planta mais empregada pelos
entrevistados, e o chá destacou-se como a forma de preparo mais comum para as espécies medicinais.
Foi observado que os familiares são a principal fonte de indicação, mas também os amigos exercem uma
significativa influência na escolha das plantas tanto para prevenção quanto para o tratamento das
enfermidades. Em suma, a população de Careiro da Várzea-AM recorre às plantas medicinais no
tratamento de enfermidades do sistema respiratório, digestivo e câncer. Os formulários, que contêm
informações sobre 21 espécies botânicas que integram o acervo dos quintais e dos canteiros suspensos,
foram meticulosamente organizados, explorados e digitalmente documentados, seguindo as normas de
manuseio necessárias para documentos raros. Esses registros detalham os cuidados de cultivo e
informações sobre o desenvolvimento das espécies, dados cruciais para monitorar as interações com o
ambiente, avaliando a adaptabilidade das plantas e as práticas de cultivo apropriadas. Dessa forma, os
formulários não se limitam apenas a registros agronômicos e biológicos; apresentam também
significativa importância científica e relevância histórica para a implementação do patrimônio de plantas
medicinais.
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