Este trabalho pretende apresentar uma contribuição para as discussões a cerca da sustentabilidade socioambiental da produção extrativista de Castanha da Amazônia (Bertholletia excelsa Bonpl.) desempenhada por comunidades tradicionais. São descritos e analisados dois sistemas sociais de produção em comunidades de Manicoré, no Amazonas: o Tradicional, representando pela Comunidade Mocambo, e o Novo, representado pela comunidade Democracia Os dados analisados correspondem aos dois anos safra 2008 e 2009, e foram obtidos durante entrevistas com os castanheiros e lideranças rurais com auxílio de formulários semi-estruturados, além de observações diretas e da consulta de documentos. As comunidades apresentam aspectos semelhantes no que diz respeito ao número de famílias, produto extrativista principal e tempo de existência da comunidade, diferindo quanto à organização social do trabalho e da produção. Os resultados demonstram que diferentes fatores, entre eles a abertura da participação social, a adoção de novas tecnologias, as novas formas de gestão territorial, os novos instrumentos de regularização fundiária, o apoio de agentes externos governamentais e não governamentais foram fundamentais para a transformação do Sistema tradicional (Comunidade Mocambo) para um Sistema Novo (Comunidade Democracia). Os Sistemas possuem diferenças estruturais bastante contrastantes e foram avaliados neste estudo por três fatores: produção, renda e custos da organização. O Sistema tradicional pode ser retratado como de baixa governança decorrente do endividamento dos coletores por meio dos instrumentos de subordinação utilizados por patrões e regatões, o que é agravado pela não adoção dos avanços tecnológicos que melhoram a qualidade e a valorização do produto. O Sistema novo, fruto da coordenação de ações coletivas, para ser consolidado necessitou de alto investimento em formação de capital humano e recursos financeiros para subsidiar atividades de capacitação e a participação efetiva dos envolvidos em todos os processos de decisão que resultaram no empoderamento da comunidade. Do ponto de vista dos custos da organização social, a ação coletiva demonstrou ser vantajosa quando comparada a ação individual, visto que tanto os custos individuais como coletivos em Mocambo foram maiores que em Democracia. Quanto à produção anual das famílias e considerando-se todos os fatores de produção, o modelo de regressão linear explica 87% da variação e o sistema de produção, como variável explicativa, foi altamente significativo (p=0,004). O que corrobora a hipótese de que a maior produção observada em Democracia está associada à maior eficiência do sistema de produção. Do ponto de vista da renda da castanha e orçamento doméstico, constatou-se que em Democracia as famílias apresentam uma maior renda que é investida principalmente na aquisição de bens duráveis e reforma das casas (57%), enquanto que Mocambo a renda oriunda da castanha é empregada majoritariamente em alimentação e o vestuário (90%). Portanto, fica demonstrada a importância dos sistemas de alta governança do ponto de vista social e econômico, no estabelecimento de uma nova dinâmica socioambiental onde resultados têm impactos consideráveis na produção extrativista.
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