Dissertação

Análise psicodinâmica do trabalho de professores de uma escola rural do município de Iranduba /AM

A reestruturação produtiva que alcançou sua forma mais ostensiva nas décadas de 80 e 90, também teve forte impacto sobre o sistema educacional, gerando novas demandas, que repercutiram nas formas de gestão e organização do trabalho docente. O objetivo da pesquisa foi compreender aspectos da experiên...

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Autor principal: Rosas, Maria Letícia Messias
Outros Autores: http://lattes.cnpq.br/9222433618491817
Grau: Dissertação
Idioma: por
Publicado em: Universidade Federal do Amazonas 2015
Assuntos:
Acesso em linha: http://tede.ufam.edu.br/handle/tede/3939
Resumo:
A reestruturação produtiva que alcançou sua forma mais ostensiva nas décadas de 80 e 90, também teve forte impacto sobre o sistema educacional, gerando novas demandas, que repercutiram nas formas de gestão e organização do trabalho docente. O objetivo da pesquisa foi compreender aspectos da experiência intersubjetiva presentes no trabalho de professores do ensino fundamental de uma escola pública, situada na zona rural do município de Iranduba no Amazonas; utilizou-se abordagem qualitativa, elegendo o aporte teórico-metodológico da Psicodinâmica do Trabalho, empregando como método a clínica do trabalho dejouriana, seguindo as etapas: pré-pesquisa, através do contato com a gestão e análise da demanda; pesquisa propriamente dita, desenvolvida em oito encontros em um espaço destinado à fala, escuta e observação clínica; e a validação e refutação dos resultados. Participaram da pesquisa sete professores. O estudo evidenciou que a organização do trabalho é fortemente marcada pela distância entre o prescrito e o real. A imposição de normas está, de modo geral, relacionada à escolha da metodologia e do material didático, feita quase sempre sem consulta prévia aos educadores. As condições de trabalho revelam-se inapropriadas para a prática da atividade docente, com espaços físicos inadequados, insuficientes ou inexistentes, salas superlotadas e falta de material pedagógico. A dinâmica das relações envolve, por um lado, o prazer decorrente da percepção de progresso dos alunos e, por outro, o sofrimento associado à dificuldade em estabelecer parceria entre a família e a escola, além da impossibilidade de criar vínculos de confiança com a hierarquia. A mobilização subjetiva é viabilizada através do uso da inteligência prática por meio de recursos derivados da intuição e da experiência acumulada ao longo dos vários anos da profissão; da cooperação que surge diante de situações que remetem a experiências compartilhadas pelos professores; e do reconhecimento proferido tanto pelos pais dos alunos, na forma de julgamento de utilidade, quanto entre os pares, indicando uma avaliação da beleza e estética do trabalho. No entanto, a falta de reconhecimento por parte dos superiores hierárquicos leva à restrição da mobilização subjetiva, além de dificultar a transformação do sofrimento em prazer no trabalho. O sofrimento aparece vinculado ao desinteresse dos alunos, à dificuldade em abordar certas temáticas transversais e à pressão por metas de aprovação. Diante do sofrimento, os professores recorrem às estratégias de enfrentamento, principalmente a transgressão do trabalho prescrito, e às estratégias de defesa, baseadas na racionalização, na resignação e no presenteísmo. Identificaram-se como sinais e sintomas do adoecimento: problemas de garganta, inflamações do glóbulo ocular, aumento da diabetes e da pressão arterial. Existem ainda indicativos para as patologias do trabalho, dentre as quais se destacam a sobrecarga e o risco de depressão decorrente da alienação social. Acreditamos que a pesquisa possibilitou a compreensão de vivências intersubjetivas presentes no trabalho docente em contexto rural, sinalizando a importância de ampliar os estudos com a utilização da clínica do trabalho stricto sensu.