Dissertação

Histórias das mulheres privadas de liberdade em Manaus: vidas marcadas pela pobreza, violência e abandono

O aumento do número de mulheres encarceradas vem crescendo de forma exponencial no Brasil, no período compreendido entre 2004 e 2014, a taxa de encarceramento feminino teve um crescimento de 300%. No Amazonas a realidade não é diferente, o percentual de crescimento desse seguimento prisional foi de...

ver descrição completa

Autor principal: Cardoso, Clarice Marques
Outros Autores: http://lattes.cnpq.br/8211430114646090
Grau: Dissertação
Idioma: por
Publicado em: Universidade Federal do Amazonas 2017
Assuntos:
Acesso em linha: http://tede.ufam.edu.br/handle/tede/5943
Resumo:
O aumento do número de mulheres encarceradas vem crescendo de forma exponencial no Brasil, no período compreendido entre 2004 e 2014, a taxa de encarceramento feminino teve um crescimento de 300%. No Amazonas a realidade não é diferente, o percentual de crescimento desse seguimento prisional foi de 99%. Dados do Ministério da Justiça apontam que a maioria dessas mulheres está presa por envolvimento com o tráfico de drogas, 58% delas, enquanto que, entre os homens, somente 23% estão presos por essa tipificação criminal. No Amazonas 54% delas estão presas por esse crime. Nos últimos anos, surgiram várias pesquisas acadêmicas sobre o encarceramento feminino, grande parte dedicada a analisar a questão das condições de vida nas prisões, o exercício da maternidade no cárcere e outros assuntos relacionados ao cotidiano prisional, ainda são poucas aquelas que buscam discutirem a questão da inserção da mulher no “mundo do crime”. Em Manaus não encontramos nenhuma pesquisa que fomentasse a questão. Com o intuito de apreender a criminalidade feminina a partir de suas relações sociais e assim delinear alguns determinantes para a inserção da mulher no crime, realizou-se uma pesquisa empírica de abordagem qualitativa com as mulheres condenadas a penas privativas de liberdade em Manaus. O método de abordagem das participantes foi a história de vida. Das 106 presas condenadas que cumpriam pena nos regimes fechado e semiaberto nessa capital, 9 se dispuseram a participar desse estudo, dessas 6 eram condenadas por tráfico de drogas e 3 por assalto, desse total, apenas duas nunca tinha tido nenhum envolvimento com a venda de drogas. As entrevistas foram gravadas, transcritas e analisadas a luz das teorias sociológicas. O estudo revelou que o envolvimento da mulher com a criminalidade tem fortes relações desigualdade social e com as transformações que ocorreram no mundo do trabalho e nas relações familiares com a reestruturação produtiva e a emergência do neoliberalismo. Nesse ínterim o trabalho no comércio de drogas e em outras atividades ilícitas que geram renda vai se naturalizando como qualquer outra forma de reprodução da vida são atividades tão precárias e perigosas, quanto, milhares de outras existentes no mercado informal, conduta por vezes oferecem melhores ganho e a possibilidade de conciliar o cuidado com a prole e o trabalho. Para desacelerar o crescimento da taxa de encarceramento feminino torna-se imprescindível, portanto, pensar outras formas de enfrentamento da expansão criminalidade, para além da construção de prisões e investimentos em políticas repressivas, além de repensarmos nossa atual política de combate às drogas.