Resumo:
A endometriose é uma doença ginecológica extremamente desafiante, no que se refere as dificuldades em seu diagnóstico, tratamento e implicações para as diversas dimensões da vida das mulheres. Em especial o sofrimento psíquico que a acompanha costuma ser, se não ignorado, pelo menos subestimado pelos serviços de saúde. O presente estudo objetivou conhecer as vivências, em relação à sua doença e cuidado, de mulheres com diagnóstico de endometriose há pelo menos um ano atendidas num ambulatório de saúde pública de atenção especializada no Amazonas. O foco repousa sobre as construções subjetivas dessas mulheres sobre sua experiência com o corpo doente. O propósito fundamental foi investigar os impactos da endometriose sobre as vidas pessoal, profissional e social dessas mulheres, descrever as produções imaginárias que permeiam o psicológico das pacientes, bem como identificar a trajetória terapêutica percorrida até o momento atual de tratamento. A pesquisa, de nível descritivo e exploratório, é de abordagem qualitativa. Utilizou-se da técnica de entrevista semidirigida, do procedimento de Desenhos-Estória com Tema. Os dados coletados nas entrevistas foram analisados segundo o método da Análise de conteúdo. Quanto ao dispositivo de interpretação, utilizou-se o referencial psicanalítico clássico. O Procedimento de Desenhos-Estórias com Tema produziu dados que foram analisados com base nas teorias e práticas da Psicanálise, das Técnicas Projetivas e da Entrevista Clínica. Os resultados demonstraram que a vivência do sintoma da dor é o mais devastador para as mulheres, causando-lhes medo, preocupação e estresse. Apesar do imaginário social que esse seria um sintoma inerente ao ser mulher, a postura ativa de busca por resolução dos sintomas expõe a supremacia do saber biomédico sobre as vivencias do corpo trazidas pelas mulheres às equipes médicas, que ignoram seus sintomas, contribuindo ainda mais com a demora do diagnóstico. A endometriose afeta a vida das mulheres nos diversos aspectos, pessoal, profissional, social e sexual, refletindo num fechamento dessas mulheres em torno de si mesmas. As vivencias relatadas neste estudo apoiam a necessidade de uma abordagem biopsicossocial, baseada na integralidade de cuidados em saúde para que as equipes médicas possam adequar os cuidados às necessidades individuais de cada mulher.