Esta tese faz uma discussão etnográfica a respeito dos conflitos político-territoriais e das relações de poder na Região Autônoma da Costa Caribe Norte e Sul, na Nicarágua, América Central. Tais relações são estreitamente vinculadas ao Estado da Nicarágua e demonstram sua posição frente aos direitos territoriais e à autodeterminação dos povos indígenas e dos chamados “afrodescendentes” que habitam esta região. Para analisar a dinâmica dessas relações, um levantamento de dados etnográficos foi realizado, referente ao megaprojeto conhecido como o "Gran Canal Interoceánico", principalmente os impactos socioambientais que este terá sobre esses povos caribenhos, além dos chamados “campesinos” de outras regiões nicaraguenses. No intuito de aprofundar a discussão, que também têm uma ligação direta com a etapa demarcatória classificada como o "saneamiento" territorial, uma investigação antropológica mais detida em campo foi efetivada no Caribe Norte, no território pertencente ao povo indígena Miskitu, denominado "Wangki Twi-Tasba Raya", especificamente nas quatro comunidades indígenas "Wisconsin", "La Esperanza-Río Wawa", "Santa Clara" e "Francia Sirpi". Isto devido à situação de conflitos mais tensos neste território, que chama a atenção às violências extremas incitadas entre indígenas e não indígenas por disputas territoriais. Uma circunstância que evidencia a negação do Estado, no que concerne garantir e acionar as leis etnicamente diferenciadas, que abrangem os direitos fundamentais dos povos oriundos da Costa Caribe nicaraguense. O estudo, do mesmo modo, visa abordar uma perspectiva interdisciplinar, utilizando de instrumentos analíticos da antropologia, sociologia, história, geografia e da ciência política, com o objetivo de refletir sobre o movimento indígena e mobilizações étnicas nas Américas, especialmente na América Central.
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