As plantas medicinais são usadas na prevenção e no combate às várias doenças, e nos últimos
anos, seu uso tem sido intensificado na medicina tradicional, sendo um deles no tratamento de
cicatrização de feridas. O Brasil, frente à sua rica biodiversidade e detentor de um terço da flora
mundial, possui um enorme potencial na geração de produtos e processos na área de
medicamentos de origem natural. Uma promissora candidata para o desenvolvimento de produto
fitoterápico é a espécie Libidibia ferrea, conhecida popularmente como jucá, empregada
popularmente para diversas finalidades, dentre elas como agente cicatrizante, anti-inflamatória,
antimicrobiana e analgésica. Visto que medicamentos elaborados à base de extratos secos vegetais
são de grande relevância, possuindo diversas vantagens como exatidão de dosagem, facilidade de
manuseio, armazenagem e estabilidade, inclusive facilitando a incorporação em formulações
farmacêuticas, podem ser utilizados para obtenção de produtos para terapia tópica. O objetivo
desse estudo foi desenvolver uma formulação fitoterápica semissólida estável empregando como
agente ativo o extrato seco vegetal padronizado de jucá. A matéria-prima vegetal (MPV) de L.
ferrea foi caracterizada e apresentou valores dentro do preconizado, com perda por dessecação
de 10,64%, o teor de cinzas totais de 2,39%, teor de extrativos de 51,09%, diâmetro médio das
partículas de 655 μm e classificada como pó moderadamente grosso. Quanto à caracterização
química, mostrou teor de polifenóis totais de 5,67%, teor de taninos totais acima do mínimo de
9,0% estabelecido pela Farmacopeia Brasileira (2019) com valor de 11,70% e quantificação de
ácido gálico de 6,40%, preconizado o conteúdo de no mínimo 1%. A Solução Extrativa (SE) de
jucá a 7,5% apresentou-se com densidade relativa de 1,01, resíduo seco de 2,83%, levemente
ácida (pH=3,72) indicando um produto estável para constituintes fenólicos, com teor de 17,03%
de polifenóis totais (151,16 ± 3,19 μg Eq Ác gálico/mL), obtendo-se pela análise em CLAE o
valor de 1,3776 mg/g de teor de ácido gálico e 11,9394 mg/g para ácido elágico, além de bandas
vibracionais características de compostos fenólicos pela análise de FTIR. O rendimento
operacional da secagem do extrato seco por aspersão (ESA) foi satisfatório de 76,26%, umidade
residual de 6,80% e baixa atividade de água (0,19) podendo se manter estável com baixos riscos
de desenvolvimento de microrganismos. Foi classificado macroscopicamente como um pó fino
com aglomerações de cor marrom claro e odor característico da espécie e em MEV mostrou
partículas com formato esférico, oca e de superfície rugosa. Foi observado que a secagem em
Spray Dryer influenciou no aumento da concentração de polifenóis totais, com teor de 40,6%
(382,61 μg eq. Ác. gálico/mL), fato também observado em FTIR. O perfil cromatográfico
mostrou presença de 4,0392 mg/g de ácido gálico e 9,1529 mg/g de ácido elágico. O ESA manteu
a viabilidade celular de fibroblastos até um período de 72h, um bom varredor de radicais livres
nos testes in vitro pelo método DPPH• com IC50 de 8,84 µg/mL e ABTS•+ de 5,23 µg/mL. O
ESA mostrou potencial atividade antimicrobiana frente à S. aureus CBAM 0324 com halo de
inibição de 20 mm na concentração de 75 mg/mL, semelhante ao padrão vancomicina. Não houve
diferenças significativas (p>0,05) entre as concentrações de 2,5%, 5% e 7,5% de ESA frente à S.
aureus ATC 29213 e ATCC 43300 e para ambas, foi obtido uma CIM = 400 µg/mL. Testes
preliminares mostraram que as formulações B30 e B40 foram compatíveis com o ESA de jucá,
até uma concentração de 5%. A formulação otimizada B40 contendo adição de lanolina se
mostrou estável e dentro das expectativas iniciais de melhorar a sua espalhabilidade, sugerindo
um veículo com potencial para incorporação do extrato seco de jucá. A formulação B43
apresentou o melhor perfil reológico, maior capacidade antioxidante e de fenóis totais e
apresentou melhor estabilidade com armazenamento em temperatura ambiente até 30 dias.
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