Introdução: A Síndrome Metabólica (SM) representa um grupo de fatores de riscos cardiovasculares que incluem obesidade abdominal, combinada com elevação de pressão arterial, glicemia de jejum e triglicérides, e redução do nível de HDL colesterol. O Brasil apresenta prevalências variadas, além de atribuir piora na qualidade de vida dos indivíduos e estar associada ao adoecimento por doença cardiovascular. Objetivo: Estimar a prevalência de síndrome metabólica e sua associação com fatores de risco cardiovascular em profissionais de enfermagem que atuam em duas unidades de atenção especializada. Métodos: Estudo transversal com 394 profissionais de enfermagem de duas unidades da atenção especializada de Manaus, Amazonas. O período de coleta de dados foi realizado de janeiro a março de 2020 na primeira unidade e, na segunda unidade, de janeiro a setembro de 2020. Adotou-se os critérios do National Cholesterol Education Program’s Adult Treatment Panel III (NCEP-ATP III) para o diagnóstico da síndrome metabólica, conforme apresentado na I Diretriz Brasileira de Diagnóstico e Tratamento da Síndrome Metabólica (2005). Os participantes foram caracterizados em relação às variáveis socioeconômicas, relacionadas ao trabalho, estilo de vida (com variáveis sobre o consumo de bebida alcoólica, tabagismo, atividade física, qualidade de sono, além dos hábitos alimentares durante o plantão), autoavaliação do estado de saúde, antecedentes familiares. Quanto aos parâmetros antropométricos, mensurou-se as circunferências: do pescoço, da cintura, abdominal, altura. Calculou-se a relação cintura quadril, índice de conicidade e índice de massa corporal. A partir da bioimpedância, avaliou-se o percentual de gordura corporal e gordura visceral. As mensurações dos níveis pressóricos atenderam as recomendações da VII Diretrizes Brasileiras de Hipertensão, utilizou-se o aparelho automático digital de braço, validado e calibrado. Foram realizadas 3 medidas pressóricas com a adoção do valor da média das duas últimas medidas. Os níveis séricos dos lipídios e glicemia foram realizados por análise laboratorial nos laboratórios das respectivas unidades de saúde envolvidas no estudo. Recomendou-se aos participantes a realização de jejum calórico antes da coleta de sangue de no mínimo 8 horas e no máximo 12 horas. Este estudo contou, ainda, com cinco subprojetos vinculados ao Programa de Iniciação Científica (PIBIC 2019/2020) da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), realizou-se também estudo piloto com 15 profissionais de enfermagem de uma unidade de pronto atendimento de Manaus que possibilitou a avaliação do tempo médio da coleta de dados para cada participante e principalmente para a verificação do entendimento dos profissionais sobre as perguntas contidas no instrumento de coleta de dados. As análises dos dados foram realizadas no programa R Development Core Team (2009). As variáveis categóricas foram apresentadas em tabelas contendo as frequências absolutas (n) e relativas (%), e as variáveis contínuas em média e o desvio padrão. As variáveis contínuas foram comparadas pelo teste T de Student e as categóricas com o teste de Chi-quadrado de Pearson, adotou-se o valor de p≤0,05. As associações das variáveis com a síndrome metabólica foram estimadas por razão de chances (Odds Ratio - OR) obtidas por regressão logística com variância bivariada, com os respectivos intervalos de confiança de 95%. A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Amazonas, com o número de parecer 3.739.664. Respeitou-se todas as prerrogativas da Resolução do Conselho Nacional de Saúde nº 466/2012. Resultados: Dos 394 profissionais, houve duas perdas devido ao não reteste da análise sérica do HDL-Colesterol, sendo assim a prevalência de síndrome metabólica nos 392 profissionais de enfermagem foi de 20,1%. Dentre os cinco componentes da SM, estabelecidos pela NCEP-ATP III, evidenciou-se que os níveis de triglicerídeos aumentados foi prevalente em todos os profissionais, seguidos pela alta prevalência do baixo HDL-Colesterol (92,4%), aumento na circunferência abdominal (75,9%), alteração nos níveis pressóricos (45,6%) e alteração nos níveis séricos da glicemia (26,6%).Entre as variáveis que se associaram a síndrome metabólica, destaca-se: idade [OR=1,06 (IC 95% 1,03-1,09); p<0,001]; número de filhos [OR=1,27 (IC 95% 1,06-1,53); p=0,012]; ser auxiliar de enfermagem [OR=3,40 (IC 95% 1,28-9,18); p=0,014]; ser tabagista [OR=3,42 (IC 95% 1,18-9,52); p=0,019]; circunferência do pescoço aumentado [OR=2,63 (IC 95% 1,50-4,82); p=0,001]; relação cintura quadril aumentado [OR=3,38 (IC 95% 2,04-5,66); p<0,001]; índice de conicidade aumentado [OR=2,98 (IC 95% 1,78-5,14); p<0,001]; sobrepeso [OR=6,68 (IC 95% 2,31-28,37); p=0,002]; obesidade grau II [OR=12,31 (IC 95% 3,62-56,98); p<0,001]; gordura visceral alto [OR=3,01 (IC 95% 1,76-5,14); p<0,001]; pré-hipertensão [OR=2,31 (IC 95% 1,12-4,59); p=0,020]; hipertensão arterial [OR=3,24 (IC 95% 1,74-6,00); p<0,001]; pré-diabetes [OR=1,96 (IC 95%1,03-3,60); p=0,035]; diabetes [OR=11,88 (IC 95% 4,74-32,62) p<0,001]; colesterol total aumentado [OR=2,51 (IC 95% 1,48-4,38); p=0,001]; antecedentes pessoais autorreferidos doença cardiovascular [OR=2,74 (IC 95%1,65-4,59); p<0,001]; diabetes [OR=3,32 (IC 95%1,47-7,33); p=0,003]; dislipidemia [OR=3,07 (IC 95%1,78-5,28); p<0,001]; hipertensão[OR=2,47 (IC 95%1,34-4,47); p=0,003]. Conclusão: A prevalência de síndrome metabólica foi alta. Trata-se do primeiro estudo que avaliou a síndrome metabólica e a associação de fatores de riscos cardiovasculares em profissionais de enfermagem que atuam em unidade da atenção especializada em Manaus, Amazonas.
|
