Neste trabalho foram estudadas frações polissacarídicas extraídas da biomassa micelial – obtida
via fermentação submersa – da linhagem de origem Amazônica do cogumelo comestível
Lentinus strigosus. Após a extração e purificação, as frações homogêneas obtidas, aquosa
(LSW) e alcalina (LSK) foram caracterizadas quanto à estrutura, propriedades físico-químicas
e reológicas, bem como efeitos imunomoduladores e adesivos em macrófagos. Ambos os
polissacarídeos apresentaram constituição majoritária de glucose, com traços de galactose,
manose, arabinose e xilose. Não foram detectados ácidos urônicos. Análises de ressonância
magnética nuclear (RMN) de 1H, 13C e DEPT-135 sugerem que a fração LSW contenha
unidades de →6)-β-D-Glcp-(1→, →4)-α-D-Glcp-(1→ e →6)-α-D-Galp-(1→ como
componentes majoritários. Já a fração alcalina (LSK) apresentou unidades de β-D-Glcp-(1→,
→3)-β-D-Glcp-(1→ e →3,6)-β-D-Glcp-(1→. Análises por espalhamento dinâmico de luz
(DLS) mostraram um diâmetro médio de 609,37 nm para as partículas polissacarídicas da fração
LSW, e 301,17 nm para LSK, ambas com dispersão homogênea de tamanhos. O potencial zeta
das duas frações foi similar, em torno de -6,58 mV para LSW e -5,47 mV para LSK, portanto
com densidade de cargas elétricas superficiais próxima da neutralidade, porém ligeiramente
negativas. Propriedades reológicas das soluções de polissacarídeos foram avaliadas em termos
do modulo de armazenamento elástico (G’), modulo de perda viscosa (G”) e viscosidade
complexa (η*), indicando um caráter de gel fraco para LSW e de líquido viscoso para LSK, não
exibindo histerese térmica significativa. Ambas as frações apresentaram significativa atividade
imunomoduladora em macrófagos murinos, estimada através da dosagem de citocinas por
ELISA. Em células RAW-264.7, LSW estimulou a produção de IL-6 e TNF-α, inibindo a
produção de IL-10, enquanto LSK não apresentou indução ou inibição de tais citocinas. Já em
células J774.1, ambas frações apresentaram atividade semelhante, ativando a produção de TNF α, inibindo IL-10 e sem influenciar os níveis de IL-6. Microesferas de poliestireno revestidas
com os polissacarídeos foram manipuladas com pinças ópticas (OT) para interagir com
macrófagos vivos em cultura, apresentando tempo característico necessário para adesão à
superfície celular bastante inferior ao controle, em torno de 13,38 s (LSW) e 13,94 s (LSK),
sugerindo que tais polissacarídeos são rapidamente reconhecidos pelos macrófagos. Diante dos
resultados, os polissacarídeos de L. strigosus apresentam propriedades distintas quando obtidos
via extração aquosa e alcalina, ambos com atividade imunoestimuladora in vitro, verificada
através de uma provável resposta inflamatória e rápida adesão/reconhecimento por macrófagos.
Tais resultados vêm a contribuir com o conhecimento sobre o potencial de L. strigosus da
Amazônia como cogumelo produtor de biomoléculas com benefícios à saúde e propriedades
nutracêuticas ou funcionais, com foco na modulação imune. Como perspectivas futuras, estudos
mais aprofundados de caracterização estrutural, mecanismos imunológicos ativados e o
screening de outras atividades biológicas desses polímeros são recomendados, assim como a
otimização e escalonamento de produção.
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