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E-book
Violência contra LGBT: resistência e enfrentamento
Este livro, que originalmente consistiu na tese de doutorado do autor, parte de uma narrativa que evidencia que os acasos concorrem para cerzir a história de um modo peculiar. Um flerte, um carro que é levado a refazer um percurso, na imediaticidade de um olhar de soslaio, e um encontro fortuito,...
Autor principal: | Pereira, Denis da Silva |
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Grau: | E-book |
Idioma: | por |
Publicado em: |
Brasil
2021
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Assuntos: | |
Acesso em linha: |
http://riu.ufam.edu.br/handle/prefix/5860 |
Resumo: |
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Este livro, que originalmente consistiu na tese de doutorado do autor, parte
de uma narrativa que evidencia que os acasos concorrem para cerzir a história
de um modo peculiar. Um flerte, um carro que é levado a refazer um percurso,
na imediaticidade de um olhar de soslaio, e um encontro fortuito, tanto
podem anunciar a surpresa, o prazer e o riso, quanto provocar sofrimento e
a possibilidade de uma tragédia. Indagando o trivial mais simples o autor se
expõe e, numa análise reflexiva, situa agentes sociais numa trama sociológica
que demarca a sexualidade na fronteira, através de um ato classificado como
criminoso, por atentar contra a vida. Uma facada inesperada, desferida com
propósito letal, desfaz expectativas românticas, fazendo despontar emoções
nada poéticas relatadas em estilo contundente na rigidez de um boletim de
ocorrência. A narrativa de próprio punho revela os limites de uma relação
fundada na liberação de costumes. É deste ponto de partida, disruptivo, que
o autor nos convida a acompanhar o percurso de seu complexo itinerário
analítico, que se estende de situações vividas à elaboração de uma tese de
doutorado. Transformar atos vividos em experiências sensoriais, tornando-os
objeto de análise e de reflexão.
A redação concisa e direta, ao se contrapor à linguagem metafórica, às
analogias e às visões edulcoradas, facilita este propósito acadêmico e bem
contorna os possíveis obstáculos e entraves a uma descrição rigorosa,
produzida segundo critérios de produção científica.
Numa abordagem marcada por identidades em movimento, o autor se
empenha no discernimento e no acuro. Discute a controversa distinção entre
gênero e sexo, descortinando condições de possibilidades para uma reversão
de convenções e normas, que vigem sob uma forma extremada e ao mesmo
tempo naturalizada de dominação masculina. O convite à leitura pressupõe
uma apreciação crítica do peso das normas e seus efeitos na vida cotidiana,
sobretudo quanto à discriminação sexual e à interdição velada de práticas corporais, com consequências éticas e relativas à liberdade de escolha. As
mais proeminentes dentre elas concernem às tentativas de legisladores e de
fundamentalistas em impor uma visão da homossexualidade como doença
e degradação, inclusive no plano das políticas públicas e dos dispositivos
jurídicos, transformando-a em “crime”. No plano moral, consideram que,
enquanto violação de princípios, são transgressões da fé ao mesmo tempo que
são classificadas como transgressões sexuais. Os atos de violência cometidos
contra os que contestam tais tentativas e desconstroem a noção de “sexo
natural”, apontando inclusive para novos significados do conceito de família2
,
evidenciam uma tendência ascensional e autoritária, absolutamente ilegal,
que compromete os princípios democráticos. Este processo de criminalização
de práticas e de controle compulsório da sexualidade, que funciona à molde
de um ritual de instituição3
de uma “temporada de caça às bruxas”, não pode
ser dissociado das violências recorrentes contra lideranças dos movimentos
LGBT’s e do elevado número de assassinatos de homossexuais. Os homicídios
e as tentativas de homicídio determinados por questões de gênero e por
fatores relativos à sexualidade compreendem mortes violentas intencionais.
Estes indicadores de criminalidade, abrangendo os mortos e atingidos pela
violência, consistem em acontecimentos funestos que demonstram que os
números a eles correspondentes só são comparáveis historicamente a grandes
tragédias e a catástrofes, a guerras e a genocídios, a matanças e a feminicídios.
Há intérpretes que argumentam que se corre o risco dos saberes homossexual
e feminino, populares, serem forçados paulatinamente a refluírem para uma
existência clandestina, subterrânea e velada, mediante os constrangimentos
sucessivos e as condições de possibilidade de severas punições.
Assim, embora o autor em pauta não se pretenda um tragediógrafo, relata
episódios cujo desenrolar da ação termina de ordinário em acontecimentos
fatais, em que os agentes sociais estudados são as vítimas. O trabalho
etnográfico ganha consistência e força descritiva a partir deste tipo de narrativa
pormenorizada e extremamente analítica da tragicidade dos fatos examinados, segundo o ponto de vista dos próprios entrevistados, bem como das estatísticas
oficiais através dos chamados “anuários de segurança pública”, que focalizam
os indicadores nacionais de criminalidade.
Em virtude desta forma de abordagem, o livro ora apresentado torna-se
uma leitura imprescindível para a compreensão sociológica dos problemas
concernentes a gênero e sexualidade, que hoje marcam a sociedade brasileira. |