Dissertação

Fios de Manacá: narrativas dos juticultores da comunidade São Sebastião da Ilha do Marrecão

Este estudo assume o propósito de verificar como se dão as práticas ecológicas do juticultores da Amazônia a partir de suas relações com a natureza e o imaginário no cotidiano das águas. No contexto da abordagem dos processos socioculturais na Amazônia, esta investigação se entrelaça nos fios da int...

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Autor principal: Vasconcelos, Irlan Leal de
Outros Autores: http://lattes.cnpq.br/4666109562391699
Grau: Dissertação
Idioma: por
Publicado em: Universidade Federal do Amazonas 2025
Assuntos:
Acesso em linha: https://tede.ufam.edu.br/handle/tede/10819
Resumo:
Este estudo assume o propósito de verificar como se dão as práticas ecológicas do juticultores da Amazônia a partir de suas relações com a natureza e o imaginário no cotidiano das águas. No contexto da abordagem dos processos socioculturais na Amazônia, esta investigação se entrelaça nos fios da interdisciplinaridade, num diálogo entre Sociologia, Antropologia, Artes e Filosofia para uma compreensão mais profunda sobre a cultura da juta no Médio rio Solimões. Esta região é conhecida por sua história com a produção de juta trazida pelos japoneses para a região amazônica. Os juticultores remanescentes mantêm a prática de produção de juta e malva como cultura e modo de vida. Suas técnicas e práticas ecológicas possuem uma forte conexão com a natureza e o chão da várzea, numa relação que tece uma cultura como modo de vida nas relações entre natureza e cultura. O locus da pesquisa, a comunidade São Sebastião na Ilha do Marrecão/Am, situada geograficamente no município de Manacapuru. Nesta ilha, em área de várzea, encontram-se juticultores que têm suas vidas atravessadas pelos fios de fibra de juta e malva, no labor e dificuldade do trabalho diante das águas. Esta realidade latente da comunidade une famílias de agricultores que nas margens da comunidade tecem suas relações com o lugar, constroem conhecimentos e têm sua vida e economia sem gerar impactos ao meio ambiente. Neste cenário, voltamos nossa atenção para ambiente amazônico e as práticas da juta que se misturam à agricultura dos povos tradicionais em processos de transculturalidade que formaram a comunidade imaginária do Marrecão. Esta pesquisa assume as orientações das abordagens qualitativas, com o apelo à fenomenologia que centrou-se nas narrativas de homens e mulheres colhidas na pesquisa de campo. As fontes secundárias foram cotejadas tendo por base fotografias, pinturas e canções concernentes à temática em estudo. Os principais resultados revelam o sofrimento do labor da juta e malva, os desafios da colheita nos jutais sob as águas e as mudanças climáticas que afetaram fortemente a vida e a subsistência destes moradores. A juta e a malva, mesmo não sendo naturais da Amazônia, se entrelaçaram aos modos de vida amazônico, construindo significações e mantendo uma relação de reciprocidade com a natureza. A pesquisa mostra que as relações entre o humano e o não humano, o real e o mítico compõem a cosmovisão dos juticultores e moldam seus modos de viver, habitar o mundo e as relações econômicas e sociais que desvelam uma visão ecocêntrica do mundo. Deve-se reconhecer, por fim, que os resultados desta pesquisa podem contribuir para uma compreensão mais profunda e próxima da realidade dos juticultores, fora da ótica do ideário ocidental, para dar visibilidade às suas práticas sociais e ecológicas.