A Carta Cadastral da Cidade e Arrabaldes de Manáos, de 1895, encomendada pelo então governador, Eduardo Ribeiro, apresenta a planta baixa de Manaus e os espaços dedicados à construção de praças. Entre todas, apenas uma ganha o nome de um sentimento, misto, complexo e delicado: a “Praça da Saudade”, inaugurada em 1865 e localizada em frente ao cemitério São José, no centro da cidade. Surge em uma época muito turbulenta para a cidade, infestada por doenças epidêmicas. Tomando por base a efervescência de tais acontecimentos, esta dissertação tem como objetivo estabelecer uma contra narrativa ao espelho mídia criado pelos meios de comunicação, propondo-se a explorar outros fatores que revelam a complexidade dessa Praça como ecossistema comunicacional. Para isto, as experiências individuais e subjetivas, tanto do pesquisador quanto dos entrevistados, consolidam-se como fatores intrínsecos às teias ecossistêmicas. Memórias, histórias e sentimentos escavados formam o que aqui chamamos de camadas sobrepostas. A tese de doutoramento de Maria Bernadete Mafra de Andrade, intitulada “Cidade mítica: uma poética das ruínas”, defendida junto à USP/2002, serviu de inspiração ao presente estudo. Assim, a metáfora camadas sobrepostas que, para além da representação simbólica que sugere, constituíram-se, aqui, no método de abordagem, condição precípua para a compreensão e análise dos dados da pesquisa. Para a apreensão dos fenômenos intrínsecos ao objeto Praça da Saudade, a metodologia ancorou na pesquisa arquivística, associada à observação direta e sistemática, portanto, participativa, com ênfase nas relações de sujeitos sociais que vivem o cotidiano da Praça. No âmbito acadêmico, a relevância do trabalho está em analisar e interpretar um conjunto de fatos capturados sob o olhar ecossistêmico acerca daquele espaço; uma outra proposta, que se encaixa, na atualidade, como uma contra narrativa ao espelho mídia, uma vez que se propôs, simultaneamente, rebuscar histórias soterradas sob “pisos de cimento”.
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