Tese

O trabalhador e o jogo do trabalho nos galpões de alegorias dos bois-bumbás de Parintins

Este estudo assume o propósito de verificar os significados socioculturais da atividade laboral realizada nos galpões de alegorias dos bois-bumbás de Parintins, buscando perceber o trabalho como um jogo que se configura em prazer, empenho, felicidade, dor, sofrimento e angustia, presentes na labuta...

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Autor principal: Trindade, Deilson do Carmo
Outros Autores: http://lattes.cnpq.br/0602516200714965
Grau: Tese
Idioma: por
Publicado em: Universidade Federal do Amazonas 2021
Assuntos:
Acesso em linha: https://tede.ufam.edu.br/handle/tede/8465
Resumo:
Este estudo assume o propósito de verificar os significados socioculturais da atividade laboral realizada nos galpões de alegorias dos bois-bumbás de Parintins, buscando perceber o trabalho como um jogo que se configura em prazer, empenho, felicidade, dor, sofrimento e angustia, presentes na labuta diária dos trabalhadores que se criam e recriam-se nesse processo. Isto nos instigou a realizar uma releitura da noção de trabalho trazida pela modernidade, centrada na fábrica e na divisão dos afazeres, a partir de cada especialidade, para nos centrarmos no homem amazônico e nas multiplicidades de seu modo de vida que interfere em seu fazer artístico. A pesquisa assumiu o aporte teórico-metodológico das ciências humanas e sociais, numa perspectiva da História Vista de Baixo, ancorada no conceito de Thompson, tendo por base dados empíricos e fontes orais. As experiências dos trabalhadores dos galpões de alegorias dos bois-bumbás de Parintins foram analisadas, buscando compor uma outra história e um novo contexto social local, repondo no campo da pesquisa temas até pouco tempo negligenciados pela historiografia. O local principal de nossa pesquisa assentou-se nos galpões onde são produzidos as fantasias e alegorias dos bois-bumbás Caprichoso e Garantido, ambos localizado na cidade de Parintins, no Amazonas. São nesses galpões que trabalham ferreiros soldadores, escultores, pintores ou pistoladores, artesãos e auxiliares. Sujeitos que compuseram nossa amostra e que nos, forneceram subsídios para construirmos um outro entendimento sobre o trabalhador e o trabalho na festa de boi-bumbá. Dentre os múltiplos resultados constatados ficou patente o fato de que o trabalho nos galpões dos bois-bumbás de Parintins, é encarado pelos trabalhadores como um jogo competitivo, envolvendo a ludicidade e a rivalidade, ao mesmo tempo em que esses trabalhadores não deixam de reivindicar seus direitos trabalhistas, expressando seu inconformismo e insatisfação salarial frente a um tipo de trabalho que comporta riscos e precariedade, e que nos possibilitou enxergar semelhanças e contradições existentes no trabalho do galpão com outras formas de trabalho. Desse modo, evidenciamos a importância do artista dos galpões dos bois-bumbás que em seu trabalho jogam pelo prazer de competir, e dessa forma, ainda constroem e reforçam uma identidade regional. Essas conclusões apontam para o fato de que o silenciamento de cada jogada é facilmente confundido com o conformismo, e o isolamento necessário para a criação artística, por vezes, é interpretado como ausência de coragem para lutar por seus direitos. Mas agir assim é necessário, muita gente ainda quer entrar nesse jogo, e existe um exército de artistas de reserva em prontidão, o que favorece as diretorias e os artistas de ponta, ao mesmo tempo em que dificulta um melhoramento das condições salariais e de trabalho nos galpões de boi-bumbá.